Um peso, duas medidas

Grande mídia abafa “Bolsolão” e Jornal Nacional ignora a liderança de Lula na corrida eleitoral 

Por: Guilherme Calafate

Em uma reportagem consistente e detalhada, o Estado de S. Paulo revelou um esquema do presidente Jair Bolsonaro para comprar apoio no Congresso, logo apelidado de “Bolsolão” e de “tratoraço”. Publicada no último sábado (8), a reportagem mostra que o governo Bolsonaro reservou 3 bilhões de reais do Orçamento de 2020 para deputados e senadores aliados indicarem a destinação de recursos. De acordo com o Estadão, parte significativa dessa verba foi destinada à compra de tratores e outros maquinários a preços superfaturados. Apesar da relevância e da gravidade da denúncia, a grande mídia brasileira deu pouco destaque ao caso do orçamento secreto e realizou uma cobertura bem diferente daquela feita de supostos escândalos de compra de apoio durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

No portal de notícias Brasil 247, o jornalista Bepe Damasco refletiu sobre como a repercussão midiática provavelmente seria mais crítica se o mesmo esquema fosse revelado nos governos de Lula e Dilma. Enquanto o “Bolsolão” foi tratado de forma, no mínimo, cautelosa pela grande mídia, delações e acusações de corrupção – mesmo com pouco ou nenhum embasamento – contra os ex-presidentes do PT foram transformadas em verdades absolutas nas manchetes e em matérias de destaque dos grandes jornais, como constatam diversas investigações de pesquisadores e jornalistas realizadas nos últimos anos, como o documentário A Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha.

Um dos principais agentes da manipulação midiática que minou a imagem pública de Dilma e Lula para propiciar o golpe de Estado de 2016, o Jornal Nacional, telejornal mais assistido do país, noticiou o “Bolsolão” somente na terça-feira (11) e o tratou como um “suposto” caso de corrupção. Assim como o portal G1 e a revista Época, também do grupo Globo. Apesar do tom mais crítico, ao abordar o caso como uma prova da contradição do discurso de Bolsonaro, a Folha de S. Paulo também não enfatizou o “Bolsolão” da mesma forma que enfatizou os episódios desfavoráveis ao PT, concedendo pouco destaque no portal online da Folha e nenhum espaço na primeira página de suas edições impressas durante a semana.

Cerca de dois meses após a repercussão midiática da pesquisa controversa do Datafolha que “julgou” Lula como culpado, o JN tornou a demonstrar sua parcialidade na edição de ontem (13), ao noticiar os resultados da mais recente pesquisa do instituto, mencionando apenas a pior marca de popularidade de Bolsonaro desde o início do governo, sem citar a expressiva liderança de Lula na corrida eleitoral de 2022. De acordo com a pesquisa, o ex-presidente poderia ser eleito no primeiro turno, com 41% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro. O Datafolha também simulou um segundo turno com Lula e Bolsonaro, que apontou 55% das intenções a favor do petista contra 23% do presidente, que poderá tentar a reeleição no ano que vem. O Jornal Nacional noticiou apenas a queda de 6% na aprovação do atual governo – de 30% em março para 24% na última pesquisa – e a pesquisa de opinião sobre o auxílio emergencial, em que 87% afirmaram ser menos que o suficiente.

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