Impedimento não marcado

Principais veículos esportivos do país se abstêm de criticar a vacinação da delegação do Atlético Goianiense antes de grupos prioritários

Por: Guilherme Calafate

O Atlético Goianiense foi o primeiro time brasileiro a ter sua delegação vacinada contra a Covid-19. No dia 6 de maio, todos os 44 integrantes da delegação do clube, incluindo comissão técnica e jogadores, receberam a primeira dose do imunizante da Sinovac no Paraguai. Em meio a críticas de torcedores, médicos, profissionais do futebol e jornalistas esportivos – alguns, aliás, atuantes nos principais veículos do país –, as redações esportivas da grande mídia optaram por se abster de investigar e criticar o caso, adotando um tom amenizador ao noticiar a vacinação.

Na contramão de outros clubes brasileiros e argentinos, como Internacional, Fluminense e River Plate, que rejeitaram a vacinação para aguardar o plano de imunização nacional, o Atlético-GO optou por receber as doses oferecidas pela Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) para os clubes que disputam competições continentais. Os imunizantes recebidos fazem parte do lote de 50 mil doses doados pela Sinovac à Conmebol para garantir a realização das competições internacionais no continente. Como o clube está disputando a atual edição da Copa Sul-Americana, pôde receber as doses.

A aplicação do imunizante ocorreu no Paraguai, pois, no Brasil, além de ser necessária a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), todas as vacinas que entram no território nacional devem ser repassadas ao SUS (Sistema Único de Saúde) como determina a Lei nº 14.125/2021. Apesar da Anvisa já ter aprovado o uso emergencial da CoronaVac no Brasil, que também é produzida pela Sinovac, nenhum veículo jornalístico averiguou se as usadas no Paraguai são as mesmas aprovadas pela agência. Em texto publicado no blog Histórias Mal Contadas, o jornalista Carlos Wagner destacou que a vacinação seria capaz até de gerar um imbróglio com o governo brasileiro, mas dificilmente acontecerá pela falta de empenho da imprensa brasileira, em especial a esportiva, em cobrir o caso.

Alguns dos principais portais esportivos do país, como Globo Esporte, Lance! e UOL, até republicaram críticas pontuais de jornalistas e comentaristas esportivos, como Walter Casagrande, do grupo Globo, e Paula Parreira, do jornal O Popular – que enfatizaram a falta de empatia e ética do clube brasileiro ao aceitar ser vacinado enquanto grupos prioritários ainda aguardam pela vacina no Brasil, no Paraguai e em outros países da América Latina. Porém, as redações desses portais adotaram um tom, no mínimo, acrítico ao noticiar a vacinação como um caso que “dividiu opiniões”. Enquanto outros veículos, como a Folha de S. Paulo e a Bandeirantes, enfatizaram as justificativas do presidente do Atlético-GO, Adson Batista, e abafaram as diversas críticas ao episódio.

Manchete de matéria publicada pelo Globo Esporte.
Manchete de matéria publicada pelo portal da Band.
Manchete de matéria publicada pelo Lance!
Manchete de matéria publicada pela Folha.

Nenhum veículo da grande mídia noticiou, por exemplo, as críticas de médicos e especialistas à vacinação – noticiadas pelo jornal O Popular –, ou destacou o fato de que, no mesmo dia em que os atletas do clube recebiam as doses no Paraguai, a cidade de Goiânia ultrapassou a marca de 151.964 casos de Covid-19 e 4.569 mortes causadas pela doença, de acordo com a Secretaria de Saúde de Goiânia. Ou que, na mesma data, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás informou que o número de óbitos por coronavírus no estado pode ser cerca de 30% maior do que o informado.

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