Violência contra jornalistas diminui, mas a imprensa continua ameaçada

O quadro de agressões contra profissionais da imprensa em 2023 no Brasil se iguala ao de 2013, segundo a presidenta da Fenaj

Por Ana Clara Zangrando

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou no mês de janeiro o relatório Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil, que analisa os casos de ataque à imprensa e/ou a jornalistas, classificando os tipos de violência, promovendo recortes por região, gênero, mídia, cor/raça e apontando os principais agressores. Segundo o documento, em 2023 houve um decréscimo de 51,86% dos casos de violência contra jornalistas: foram 181 casos no total, enquanto que no ano anterior foram registrados 376 casos. 

Durante o lançamento do relatório, que ocorreu no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro (SJMRJ), a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, declarou que o cenário das violências destinadas a jornalistas segue alarmante.  “As agressões à categoria e ao Jornalismo continuam e, em determinadas categorias de violência, até cresceram significativamente em 2023, quando comparadas ao ano anterior”.

O decréscimo, contudo, não foi significativo para a maioria das categorias de agressões, havendo até mesmo um aumento do número de casos em algumas delas, como, por exemplo, o assédio judicial, que aumentou 92,31% em 2023. Foram registrados 25 casos de cerceamento ao exercício profissional por meio de ações judiciais ao longo do ano, enquanto que no ano anterior foram registradas 13 ocorrências. Os ataques aos sindicatos e/ou aos sindicalistas também tiveram um aumento de 266,67% em 2023, sendo registrados 25 casos, enquanto que no ano anterior foram registrados apenas 13 casos. 

Em escala global, o processo teve um sentido inverso. Segundo a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), em 2023, 120 profissionais da imprensa foram mortos, 68% em Gaza, durante a cobertura do massacre promovido por Israel contra a Palestina. 

Ainda que tenham diminuído os casos de agressões à imprensa e/ou aos jornalistas no Brasil, o número de casos em 2023 se mostra 34,07% maior que em 2018, período que precedeu o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante seu governo, Bolsonaro desferiu uma série de ataques a jornalistas e à própria imprensa. Além de ter incentivado a descredibilização da imprensa, Bolsonaro institucionalizou a violência contra os jornalistas com a tentativa de desmonte e censura da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).  

Durante seu mandato, o presidente proferiu 570 ataques direcionados a profissionais da imprensa, o que seria uma média de 142,5 ataques por ano. Em seu primeiro ano, foi registrado um aumento de 54% dos casos de agressões a jornalistas no Brasil, ao todo foram 208 casos em 2019, 73 casos a mais que em 2018. Em 2020, houve um crescimento de 105,77% dos casos, totalizando 428 episódios de violência no período de um ano. No ano seguinte, foram registrados dois casos a mais. Em 2022, foi registrada uma pequena queda de casos de violência, que bateram a marca de 376 casos. 

Dentre as categorias de violência, as mais recentes são LGBTfobia/ transfobia e perseguição, criadas em 2023 pelos pesquisadores. Já foram registrados três ataques transfóbicos, um ataque homofóbico e uma situação de perseguição a um jornalista no último ano. As ameaças / hostilizações / intimidações lideram o ranking de agressões contra jornalistas em 2023. Foram registrados 42 casos, o que equivale a 23,21% dos casos de violência registrados, 45,45% a menos do que a marca do ano anterior, mas, ainda assim, um número significativo. 

Na região sudeste foi registrado o maior número de casos no Brasil, sendo São Paulo considerado o estado mais violento para os profissionais da imprensa. A segunda região mais hostil aos jornalistas é o nordeste, sendo esta a única onde se pode notar um aumento no número de casos. 

Os principais responsáveis pelos ataques a jornalistas e à imprensa são políticos, tendo causado 44 dos 181 episódios de violência no ano. Na sequência, estão os eleitores da extrema-direita, responsáveis por 31 episódios de violência em manifestações antidemocráticas e/ou golpistas. 

Dentre os agressores, está a Confederação Israelita do Brasil (Conib), que assediou judicialmente o jornalista Breno Altman, fundador e editor do site Opera Mundi. Altman é judeu e denuncia as políticas do Estado de Israel de ocupação do território palestino e de “limpeza étnica” contra o povo palestino. 

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