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Jornais exploram trágica morte do cantor Mc Kevin e faturam com a repercussão do caso

Por: Guilherme Calafate

O fatídico acidente sofrido por Mc Kevin ocorreu há cerca de duas semanas, no dia 16 de maio, e diversos veículos jornalísticos seguem publicando reportagens e entrevistas sobre o caso diariamente.  Tal repercussão não é de se estranhar, levando em consideração que o cantor era um dos principais nomes do funk brasileiro, com uma legião de fãs e cerca de 7,5 milhões de seguidores no Instagram e 1,8 milhão de ouvintes mensais no Spotify – números registrados no dia do acidente. Porém, a cobertura dos veículos jornalísticos sobre a morte do cantor gerou críticas tanto por desumanizar Kevin quanto por explorar a dor de familiares, amigos e fãs.

Entrevistas realizadas dias após o acidente por canais de TV, como a TV Globo e a Record TV, com pessoas próximas a Kevin ou presentes na cena do acidente ganharam enorme audiência. O Domingo Espetacular, da Record TV, bateu recorde de audiência em São Paulo e no Rio de Janeiro no dia 23, ao transmitir uma série de entrevistas com Bianca Rodriguez, acompanhante de luxo que estava no quarto na hora do acidente, os amigos de Kevin, Jonathas Cruz e Mc VK, que também estavam presentes no quarto, e a viúva do artista, Deolane Ribeiro.

Deolane Bezerra diz que maconha fazia parte do dia a dia de MC Kevin
Jornalista Roberto Cabrini entrevista Deolane Ribeiro para o Domingo Espetacular (Reprodução/Record TV).

Entretanto, o jornal O Globo foi além e entrevistou Evelin Gusmão, mãe da única filha de Kevin, Soraya Nascimento Gusmão, a fim de obter informações sobre o estado da menina. Em uma reportagem publicada no dia 25, o jornal colocou como manchete uma fala de Soraya, de apenas cinco anos: “‘Papai não me levou para viajar e agora não vai mais’: a promessa de MC Kevin à filha antes da morte”. No restante da reportagem, O Globo expõe detalhes sobre as relações do cantor com a filha e com a ex-namorada, chegando a questionar se Evelin pretendia “disputar pela herança do artista”. 

Manchete de matéria publicada pelo O Globo.

A matéria “Sexo, drogas e brigas: a morte de MC Kevin em quadrinhos” publicada pelo jornal Extra é um exemplo explícito de como a cobertura do caso se tornou mais uma amostra da recorrente atuação da mídia para desumanizar artistas e transformá-los em personagens ou mitos. Uma série de seis ilustrações intercaladas com parágrafos que narram o acontecido no dia do acidente, associa a narrativa jornalística explicitamente a uma história em quadrinhos. Outro veículo do grupo Globo, o portal de notícias G1, também inseriu uma série de ilustrações semelhante à do Extra em uma matéria sobre o depoimento de Bianca Rodriguez.

Manchete e ilustrações da matéria publicada pelo Extra.

Mesmo que a Polícia Civil do Rio de Janeiro já tenha concluído que a morte de Mc Kevin foi acidental, diversos jornais continuam esmiuçando a história do acidente sob o véu do “jornalismo investigativo”, alimentando hipóteses sobre as circunstâncias da morte e destacando informações ou detalhes que mantenham a repercussão do caso. O Globo, por exemplo, publicou uma matéria no dia 23 em que o assunto principal é o relatório de consumo do artista e seus amigos em um quiosque na orla da Barra da Tijuca. No dia seguinte, a Record TV exibiu, no programa Balanço Geral, imagens da câmera de um quiosque que mostram Kevin momentos antes do acidente, visivelmente alterado e andando com extrema dificuldade em direção ao hotel, chegando a cair no chão em determinado momento.

Exclusivo: vídeo mostra MC Kevin cambaleando em quiosque na Barra da Tijuca
Momento em que o programa Balanço Geral exibiu imagens de Mc Kevin a caminho do hotel (Reprodução/Record TV).
Manchete da matéria publicada pelo O Globo.

Ontem (27), Mc Kevin tornou a ser tema de dezenas de matérias de diversos veículos após o exame toxicológico de seu corpo ser divulgado e comprovar o que já tinha sido confirmado por testemunhas e imagens de momentos anteriores ao acidente: o cantor havia ingerido bebida alcoólica no dia de sua morte. Ao que tudo indica, os jornais continuarão “espremendo” o caso enquanto puderem arrumar pautas para isso ou até quando houver público para acompanhar a “novela” construída pela mídia.

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